14 de outubro de 2014

O que a dietoterapia segundo a MTC?




Para a tradição Oriental, nomeadamente para a filosofia inerente à MTC, é comum afirmar que a cura através dos alimentos é tão antiga que se julga ter nascido ao mesmo tempo da humanidade. Contudo e apesar de para a tradição oriental a dietoterapia fazer parte integrante e fundamental da “sua” medicina, no nosso Ocidente é uma ciência nova e a dar os primeiros passos. Claro está que se poderá confundir com as ciências da Nutrição, as dietas milagrosas, planos alimentares infalíveis, e, sobretudo, dietas de emagrecimento, a única coisa que para a maioria interessa. No entanto, encontramos diferenças que nos levam a “respeitar” e a promover profundamente esta visão oriental, pois, apesar de enraizada numa tradição de muitos séculos, os resultados apresentados, no mínimo, fazem-nos pensar e estudar esta abordagem especifica da dietoterapia segundo a MTC. Quanto mais aprofundo, mais convencido fico.
Mas para que possamos entender melhor este conceito de Dietoterapia, o melhor é tentar defini-lo: a dietoterapia consiste no uso dos alimentos com fins terapêuticos que incluem o cuidado com o corpo, a conservação da saúde e, sem dúvida, a prevenção das doenças.
Que vantagens podemos encontrar neste conceito, que o tornem importante para nós, homens comuns que buscamos a saúde, como um bem primordial? Em primeiro lugar, a facilidade com que podemos encontrar “os medicamentos” – alimentos – que podem ser guardados na nossa dispensa, sem riscos de intoxicação, pelo menos se não exagerarmos no consumo dos mesmos. Depois é fácil e barato pô-la em pratica. Sem esquecer a facilidade com que podemos usar estes “medicamentos” – alimentos – não podemos ignorar a eficácia destes no tratamento de doenças e na manutenção da nossa saúde.
A história da humanidade sugere-nos que desde sempre o Homem encontrou nos alimentos “poderes curativos”, pois foi com esses alimentos que ele começou a subsistir, a retemperar as energias e a recuperar as forças e, sobretudo, a perceber que determinados alimentos curavam certas doenças. Felizmente, esse conhecimento adquirido com as experiencias pessoais, foi sendo guardado, transmitido e partilhado de geração em geração, de povo para povo e chegou até nós, que diga-se, quisemos fazer um “delete” deste tão precioso conhecimento.
Mas como poderemos afirmar que os alimentos podem prevenir e curar as doenças? Pois bem, a resposta a esta questão só será entendida à luz da forma como a MTC vê a vida do Universo.
Segundo a Medicina Chinesa, o universo ou cosmos está formado por matéria, que tem a sua própria natureza: o Yin e o Yang, diz Liu Guo Hua. O quente e o frio, o interior e o exterior, o real e a ilusão. Tudo se resume a esta contradição fundamental, ou melhor, a este dualismo complementar. Tal como tudo na natureza o ser humano também é composto pelo Yin e pelo Yang, continua Liu Guo Hua, este duplo carater. O Yin representa a natureza do frio, do interior, do descanso, como a água e o Yang, seu oposto complementar, representa o fogo, a natureza quente, o exterior e o superior e o movimento. Se yin e yang estão em equilíbrio, não teremos problemas de saúde. No entanto, se esse equilíbrio é afetado, aparecem as doenças. Logo está nas mãos do ser humano manter essa harmonia de contrários para alcançar a saúde.
Com os alimentos passa-se o mesmo. Alimentos com natureza fria, são essenciais para prevenir e tratar patologias de Yang e alimentos de natureza quente para tratar o seu oposto.
Poderemos afirmar que as verduras, na sua generalidade são de natureza Yin e com propriedades de baixar o calor (clarear calor), desintoxicar, aliviar a sede, isto é combater asdoenças de natureza quente ou Yang, tais como a febre, dor e inflamação de garganta, úlceras, entre outras. Por outro lado, a natureza quente do gengibre, do alho, da pimenta, alimentos Yang, com propriedades que permitem eliminar o frio e combater as patologias Yin, como frio nas extremidades, ataques de vento-frio, entre outras.
Para a dietoterapia segundo a Medicina Chinesa conhecer a natureza dos alimentos também pode ajudar a prevenir as doenças e/ou a manter o equilibrio que representa a saúde. Por isso defende-se que ao ingerirmos alimentos não devemos só estar atentos às nossas necessidades fisiológicas, pois uma pessoa débil, cheia de frio, não deverá ingerir alimentos muito Yin, pois aumentará este e o equilibrio Yin e Yang fica afetado e aparece a doença.
Claro está que estamos todos de acordo que para manter a vida e o metabolismo saudáveis e equilibrados são precisas muitas substancias – vitaminas, lípidos, gorduras, etc . No entanto é no equilíbrio do consumo destas substancias que está o cerne da questão, relativamente à saúde. E para isso, não podemos esquecer que os alimentos constituem a principal base dos elementos essenciais para mantermos esse estado de equilibrio, o mesmo que dizer, saúde.
Cada alimento apresenta características especificas que são importantes para o nosso organismo manter o seu equilibrio, logo não deveremos comer demasiado ou ser demasiado esquisitos, com a alimentação, pois poderemos estar a criar as condições ideais para haver desequilíbrio no nosso organismo e favorecer o aparecimento de doenças, que,  quer acreditemos ou não, têm a sua origem na má alimentação do ser humano.
E outra coisa me deixe algo irritado: a nossa sociedade vive tempos onde tudo tem que ter uma prova cientifica, que atualmente se chama evidencia cientifica, para que determinado alimento possa estar na lista de “medicamentos” que tratam tal doença. E pergunto: não chega que  os nossos antepassados e sua experiencia, baseada na sua própria vivência quotidiana de milhares de anos, afirmassem que determinado alimento era bom para curar tal doença? Então o que me dizem do consumo de algas para tratar problemas da tiróide? Durante milhares de anos os nossos antepassados consumiam algas por causa do Iodo e dos resultados excelentes em determinadas patologias da tiroide. Será que temos que bater com a cabeça na parede para sabermos que vai doer? Será, algo mais camuflado, que hà pessoas que não querem que a humanidade saiba destas coisas? Sem criar qualquer teoria da conspiração, acho que o Homem atual está demasiado importado em provar certas coisas que se esquece do essencial. Como dizia um jovem sénior da minha terra,como muita experiência adquirida na vida e não nos laboratórios, por alturas do carnaval: “Oh moço, estás tão distraído com a mini-saia, que deixaste de lhe ver a barba na cara”. Será que estamos assim tão distraídos que não consigamos entender que a grande arma contra as nossas doenças são os alimentos que ingerimos, de forma equilibrada e usufruindo das suas potencialidades mais específicas? Será que não querem que a humanidade tenha uma alimentação equilibrada e de acordo com a mãe natureza?
Espero que este tema esteja agora mais claro, sobretudo porque é demasiado importante para ser desenvolvido de forma pouco profunda. Mas também não será preciso fazer uma tese sobre os componentes/substancia de cada alimento e suas potenciais ações para que o uso da dietoterapia seja uma arma eficaz contra o combate e prevenção de doenças. Mas fica um alerta: tal com todas as formas de tratamento, devemos recorrer a um especialista que nos possa fazer um diagnóstico correto, pois caso contrario, poderemos piorar a situação.
Para finalizar este capítulo, apenas deixo um apelo: uma alimentação equilibrada será a grande arma de combate às doenças. Por isso, faça do seu alimento, o seu medicamento.

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