Para a tradição Oriental,
nomeadamente para a filosofia inerente à MTC, é comum afirmar que a cura
através dos alimentos é tão antiga que se julga ter nascido ao mesmo tempo da
humanidade. Contudo e apesar de para a tradição oriental a dietoterapia fazer
parte integrante e fundamental da “sua” medicina, no nosso Ocidente é uma
ciência nova e a dar os primeiros passos. Claro está que se poderá confundir
com as ciências da Nutrição, as dietas milagrosas, planos alimentares infalíveis, e, sobretudo, dietas de emagrecimento, a única coisa que para a maioria interessa. No entanto, encontramos diferenças que nos levam a
“respeitar” e a promover profundamente esta visão oriental, pois, apesar de enraizada numa
tradição de muitos séculos, os resultados apresentados, no mínimo, fazem-nos
pensar e estudar esta abordagem especifica da dietoterapia segundo a MTC. Quanto mais aprofundo, mais convencido fico.
Mas para que possamos entender
melhor este conceito de Dietoterapia, o melhor é tentar defini-lo: a
dietoterapia consiste no uso dos alimentos com fins terapêuticos que incluem o
cuidado com o corpo, a conservação da saúde e, sem dúvida, a prevenção das
doenças.
Que vantagens podemos encontrar
neste conceito, que o tornem importante para nós, homens comuns que buscamos a
saúde, como um bem primordial? Em primeiro lugar, a facilidade com que podemos
encontrar “os medicamentos” – alimentos – que podem ser guardados na nossa
dispensa, sem riscos de intoxicação, pelo menos se não exagerarmos no consumo
dos mesmos. Depois é fácil e barato pô-la em pratica. Sem esquecer a facilidade
com que podemos usar estes “medicamentos” – alimentos – não podemos ignorar a
eficácia destes no tratamento de doenças e na manutenção da nossa saúde.
A história da humanidade
sugere-nos que desde sempre o Homem encontrou nos alimentos “poderes curativos”,
pois foi com esses alimentos que ele começou a subsistir, a retemperar as energias
e a recuperar as forças e, sobretudo, a perceber que determinados alimentos
curavam certas doenças. Felizmente, esse conhecimento adquirido com as
experiencias pessoais, foi sendo guardado, transmitido e partilhado de geração
em geração, de povo para povo e chegou até nós, que diga-se, quisemos fazer um “delete”
deste tão precioso conhecimento.
Mas como poderemos afirmar que os
alimentos podem prevenir e curar as doenças? Pois bem, a resposta a esta questão
só será entendida à luz da forma como a MTC vê a vida do Universo.
Segundo a Medicina Chinesa, o
universo ou cosmos está formado por matéria, que tem a sua própria natureza: o
Yin e o Yang, diz Liu Guo Hua. O quente e o frio, o interior e o exterior, o
real e a ilusão. Tudo se resume a esta contradição fundamental, ou melhor, a
este dualismo complementar. Tal como tudo na natureza o ser humano também é
composto pelo Yin e pelo Yang, continua Liu Guo Hua, este duplo carater. O Yin
representa a natureza do frio, do interior, do descanso, como a água e o Yang,
seu oposto complementar, representa o fogo, a natureza quente, o exterior e o
superior e o movimento. Se yin e yang estão em equilíbrio, não teremos
problemas de saúde. No entanto, se esse equilíbrio é afetado, aparecem as
doenças. Logo está nas mãos do ser humano manter essa harmonia de contrários
para alcançar a saúde.
Com os alimentos
passa-se o mesmo. Alimentos com natureza fria, são essenciais para prevenir e
tratar patologias de Yang e alimentos de natureza quente para tratar o seu
oposto.
Poderemos afirmar que
as verduras, na sua generalidade são de natureza Yin e com propriedades de baixar
o calor (clarear calor), desintoxicar, aliviar a sede, isto é combater
asdoenças de natureza quente ou Yang, tais como a febre, dor e inflamação de
garganta, úlceras, entre outras. Por outro lado, a natureza quente do gengibre,
do alho, da pimenta, alimentos Yang, com propriedades que permitem eliminar o
frio e combater as patologias Yin, como frio nas extremidades, ataques de
vento-frio, entre outras.
Para a dietoterapia
segundo a Medicina Chinesa conhecer a natureza dos alimentos também pode ajudar
a prevenir as doenças e/ou a manter o equilibrio que representa a saúde. Por
isso defende-se que ao ingerirmos alimentos não devemos só estar atentos às
nossas necessidades fisiológicas, pois uma pessoa débil, cheia de frio, não
deverá ingerir alimentos muito Yin, pois aumentará este e o equilibrio Yin e
Yang fica afetado e aparece a doença.
Claro está que estamos
todos de acordo que para manter a vida e o metabolismo saudáveis e equilibrados
são precisas muitas substancias – vitaminas, lípidos, gorduras, etc . No
entanto é no equilíbrio do consumo destas substancias que está o cerne da
questão, relativamente à saúde. E para isso, não podemos esquecer que os
alimentos constituem a principal base dos elementos essenciais para mantermos esse
estado de equilibrio, o mesmo que dizer, saúde.
Cada alimento apresenta
características especificas que são importantes para o nosso organismo manter o
seu equilibrio, logo não deveremos comer demasiado ou ser demasiado esquisitos,
com a alimentação, pois poderemos estar a criar as condições ideais para haver desequilíbrio
no nosso organismo e favorecer o aparecimento de doenças, que, quer acreditemos ou não, têm a sua origem na
má alimentação do ser humano.
E outra coisa me deixe
algo irritado: a nossa sociedade vive tempos onde tudo tem que ter uma prova
cientifica, que atualmente se chama evidencia cientifica, para que determinado
alimento possa estar na lista de “medicamentos” que tratam tal doença. E
pergunto: não chega que os nossos
antepassados e sua experiencia, baseada na sua própria vivência quotidiana de
milhares de anos, afirmassem que determinado alimento era bom para curar tal
doença? Então o que me dizem do consumo de algas para tratar problemas da
tiróide? Durante milhares de anos os nossos antepassados consumiam algas por
causa do Iodo e dos resultados excelentes em determinadas patologias da tiroide.
Será que temos que bater com a cabeça na parede para sabermos que vai doer?
Será, algo mais camuflado, que hà pessoas que não querem que a humanidade saiba
destas coisas? Sem criar qualquer teoria da conspiração, acho que o Homem atual
está demasiado importado em provar certas coisas que se esquece do essencial. Como
dizia um jovem sénior da minha terra,como muita experiência adquirida na vida e
não nos laboratórios, por alturas do carnaval: “Oh moço, estás tão distraído
com a mini-saia, que deixaste de lhe ver a barba na cara”. Será que estamos
assim tão distraídos que não consigamos entender que a grande arma contra as
nossas doenças são os alimentos que ingerimos, de forma equilibrada e usufruindo
das suas potencialidades mais específicas? Será que não querem que a humanidade
tenha uma alimentação equilibrada e de acordo com a mãe natureza?
Espero que este tema
esteja agora mais claro, sobretudo porque é demasiado importante para ser
desenvolvido de forma pouco profunda. Mas também não será preciso fazer uma
tese sobre os componentes/substancia de cada alimento e suas potenciais ações
para que o uso da dietoterapia seja uma arma eficaz contra o combate e
prevenção de doenças. Mas fica um alerta: tal com todas as formas de
tratamento, devemos recorrer a um especialista que nos possa fazer um
diagnóstico correto, pois caso contrario, poderemos piorar a situação.
Para finalizar este capítulo,
apenas deixo um apelo: uma alimentação equilibrada será a grande arma de
combate às doenças. Por isso, faça do seu alimento, o seu medicamento.
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