29 de outubro de 2014

OS SABORES E SUAS AÇÕES NO NOSSO ORGANISMO SEGUNDO A MTC





Voltamos a falar dos sabores dos alimentos, não para repetir a suas caraterísticas específicas, mas para falarmos das suas ações, que segundo a MTC são oito: diaforética, emética, purgativa, reguladora, refrescante, calorifica, tónica e dispersante.
Quando usamos corretamente a conjugação dos sabores, estamos, segundo a MTC a desenvolver estas oito ações terapêuticas: técnica da sudorese, emética, purgação, regularização, refrigeração, aquecimento, tonificação e dispersão (Nguyen Van Nghi, Patogenia e patologia em Medicina Chinesa).
Não quer ser pretensioso, mas acho que no ocidente há uma dificuldade cultural em entender de forma correta estas ações, pelo que proponho uma nomenclatura, ligeiramente, diferente:
Técnica da Sudorese: sudação – ação que provoca suor abundante, com movimento do interior para o exterior, de forma a expelir o fator patogénico externo;
Técnica emética: vomitar – ação de expelir, usada sobretudo no caso de estagnações de alimentos no estômago; movimento do interior para o exterior;
Técnica de purgação: limpeza/eliminação – ação para limpar/eliminar o que está a mais; na nossa cultura portuguesa chama-se fazer uma purga; movimento do interior para o exterior;
Técnica de regularização: harmonização – ação com efeito harmonizador da energia, conforme a patologia em causa – distúrbio; movimento interior, movimento interior-exterior, movimento centrípeto;
Técnica de refrigeração: arrefecer – ação que visa arrefecer; movimento de fora para dentro; de dentro para fora, consoante a patologia;
Técnica de aquecimento: aquecer – ação para contrabalançar a exposição ao frio, principalmente no inverso; movimento e dentro para fora e de fora para dentro;
Técnica de tonificação: tonificar – ação que visa fortalecer, revigorar ou consolidar a energia em geral; todos os movimentos;
Técnica de dispersão: dispersar/fazer mover – ação com efeito de fazer mover o que está estagnado e não tanto no sentido de eliminar; movimento de dentro pra fora, de cima para baixo e vice-versa;
Claro está, para que estas técnicas sejam, de facto, bem utilizadas, dever-se-á recorrer a um especialista em MTC, pois um diagnóstico errado, poderá levar a que os efeitos sejam mais prejudiciais que benéficos.
Mas para que possa entender melhor o leitor, o que cada uma destas técnicas poderá fazer e em que patologias/desarmonias poderão ser utilizadas, irei apresentar uma breve resenha de cada uma delas e os respetivos sabores utilizados.
A técnica de sudação deverá ser utilizada na primeira fase da doença, isto é, quando o fator patogénico é externo. No entanto, se a pessoa sofrer de uma patologia crónica debilitante, esta técnica não deverá ser utilizada. É uma técnica importante no combate a patologias tipo gripes, constipações, doenças infeciosas, ataques de vento frio. Os alimentos deverão ter sabor picante e natureza quente. Uma receita tradicional portuguesa é o vinho tinto quente com uma especiaria igualmente de natureza quente e sabor picante, tipo canela, cravo-da-índia, ou então a utilização de um chá com álcool (aguardente, normalmente).
Quem nunca sentiu a “digestão parada”, com sintomas de estagnação, de bloqueio, nomeadamente um peso abdominal e inchaço, com a sensação de obstrução dos alimentos no estômago, que parecem querer sair. Nestas situações o vomitar é uma técnica a usar, pois vai eliminar o que parece estar a mais. Poderemos usar o sabor amargo.
Quem nunca ouviu falar em “purgas”? Purgar, quer dizer limpar, eliminar, por isso chamo de técnica de limpeza/eliminação. Na nossa cultura esta técnica era utilizada com alguma frequência, sobretudo quando os problemas estavam relacionados com os intestinos. Na MTC, tem como objetivo eliminar a acumulação de matérias nefastas, vermes e até o “muco do intestino” em excesso. Excelente para estados de obstipação crónica. No entanto, esta técnica, muitas vezes, tem que ser acompanhada pela toma de fitoterapia ou de decocções mais fortes, nomeadamente, alcachofra e ruibarbo. Mas atenção, com algum cuidado, pois a toma em excesso destas decocções pode ser prejudicial, a longo prazo.
Num quadro de irregularidade energética, onde é importante conhecer bem a desarmonia em causa, a utilização de todos os sabores, com o devido equilíbrio, faz da técnica da harmonização, uma ferramenta importante para conseguirmos o tão desejado equilíbrio que nos dá saúde. Deve-se recorrer a um especialista em MTC, para que a desarmonia seja identificada e a prescrição de alimentos ou mesmo de um plano alimentar, vise colmatar essa mesma desarmonia e reequilibrar o nosso corpo, na sua totalidade: corpo, mente e espírito.
As técnicas de arrefecer e aquecer visam, sobretudo, um equilíbrio de temperaturas ajustado às patologias de ataques de frio ou de ataques de calor. Se bem nos lembramos, a nossa cultura gastronómica apresenta refeições mais quentes no Inverno e mais refrescantes no verão, atuando assim para estabelecer o equilíbrio do nosso organismo.
A alimentação deve ter em conta a tonificação geral do nosso organismo, na sua totalidade, sendo que os sabores, que poderemos chamar de suaves, no sentido de não muito fortes, deverão ser utilizados com mais frequência e com um equilíbrio ainda mais acentuado. Na técnica de tonificação deveremos dar atenção privilegiada à riqueza e à vitalidade dos alimentos, ao seu Jing, como diz Guilherme Juvenal. Alimentos com um forte Jing, serão essenciais, pois encerram em si um potencial energético que será disponibilizado para o nosso organismo e irá potenciar a nossa energia, o no Qi. Por isso, a técnica de tonificar deve ser uma das mais utilizadas.
Finalmente, a técnica do dispersar/fazer mover, tal como diz o nome tem como objetivo fazer mover e dispersar. Contudo, esta técnica, tal como todas as outras com base só na alimentação, o seu efeito não é imediato, mas a médio/longo prazo. Nestes casos a utilização da acupuntura ou da fitoterapia é fundamental, pois vão proporcionar um efeito mais rápido, tão querido da nossa cultura ocidental. Não temos tempo a perder, dizem os pacientes mais impacientes…
Ora bem, estas técnicas são, na minha opinião, coadjuvantes importantes no tratamento das patologias ou desarmonias que os nossos pacientes padecem. No entanto, o tempo que leva a fazer efeito, salvo raras exceções, faz com que eles desistam antes de poderem experimentar os efeitos benéficos das mesmas. Contudo, estou convencido que com alguma paciência, da parte dos terapeutas e empenho da parte dos pacientes, aquelas serão ferramentas fundamentais para manter o equilíbrio que caracteriza a saúde.
E nunca se esqueçam: faz do teu alimento, teu medicamento…

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