Voltamos a falar dos sabores dos
alimentos, não para repetir a suas caraterísticas específicas, mas para
falarmos das suas ações, que segundo a MTC são oito: diaforética, emética,
purgativa, reguladora, refrescante, calorifica, tónica e dispersante.
Quando usamos corretamente a
conjugação dos sabores, estamos, segundo a MTC a desenvolver estas oito ações
terapêuticas: técnica da sudorese, emética, purgação, regularização,
refrigeração, aquecimento, tonificação e dispersão (Nguyen Van Nghi, Patogenia
e patologia em Medicina Chinesa).
Não quer ser pretensioso, mas
acho que no ocidente há uma dificuldade cultural em entender de forma correta
estas ações, pelo que proponho uma nomenclatura, ligeiramente, diferente:
Técnica da Sudorese: sudação – ação que provoca suor
abundante, com movimento do interior para o exterior, de forma a expelir o
fator patogénico externo;
Técnica emética: vomitar – ação de expelir, usada sobretudo
no caso de estagnações de alimentos no estômago; movimento do interior para o
exterior;
Técnica de purgação: limpeza/eliminação – ação para
limpar/eliminar o que está a mais; na nossa cultura portuguesa chama-se fazer
uma purga; movimento do interior para o exterior;
Técnica de regularização: harmonização – ação com efeito
harmonizador da energia, conforme a patologia em causa – distúrbio; movimento
interior, movimento interior-exterior, movimento centrípeto;
Técnica de refrigeração: arrefecer – ação que visa
arrefecer; movimento de fora para dentro; de dentro para fora, consoante a
patologia;
Técnica de aquecimento: aquecer – ação para contrabalançar a
exposição ao frio, principalmente no inverso; movimento e dentro para fora e de
fora para dentro;
Técnica de tonificação: tonificar – ação que visa
fortalecer, revigorar ou consolidar a energia em geral; todos os movimentos;
Técnica de dispersão: dispersar/fazer mover – ação com
efeito de fazer mover o que está estagnado e não tanto no sentido de eliminar;
movimento de dentro pra fora, de cima para baixo e vice-versa;
Claro está, para que estas
técnicas sejam, de facto, bem utilizadas, dever-se-á recorrer a um especialista
em MTC, pois um diagnóstico errado, poderá levar a que os efeitos sejam mais
prejudiciais que benéficos.
Mas para que possa entender
melhor o leitor, o que cada uma destas técnicas poderá fazer e em que
patologias/desarmonias poderão ser utilizadas, irei apresentar uma breve
resenha de cada uma delas e os respetivos sabores utilizados.
A técnica de sudação deverá ser
utilizada na primeira fase da doença, isto é, quando o fator patogénico é
externo. No entanto, se a pessoa sofrer de uma patologia crónica debilitante,
esta técnica não deverá ser utilizada. É uma técnica importante no combate a
patologias tipo gripes, constipações, doenças infeciosas, ataques de vento
frio. Os alimentos deverão ter sabor picante e natureza quente. Uma receita
tradicional portuguesa é o vinho tinto quente com uma especiaria igualmente de
natureza quente e sabor picante, tipo canela, cravo-da-índia, ou então a
utilização de um chá com álcool (aguardente, normalmente).
Quem nunca sentiu a “digestão
parada”, com sintomas de estagnação, de bloqueio, nomeadamente um peso
abdominal e inchaço, com a sensação de obstrução dos alimentos no estômago, que
parecem querer sair. Nestas situações o vomitar é uma técnica a usar, pois vai
eliminar o que parece estar a mais. Poderemos usar o sabor amargo.
Quem nunca ouviu falar em “purgas”?
Purgar, quer dizer limpar, eliminar, por isso chamo de técnica de
limpeza/eliminação. Na nossa cultura esta técnica era utilizada com alguma
frequência, sobretudo quando os problemas estavam relacionados com os
intestinos. Na MTC, tem como objetivo eliminar a acumulação de matérias
nefastas, vermes e até o “muco do intestino” em excesso. Excelente para estados
de obstipação crónica. No entanto, esta técnica, muitas vezes, tem que ser
acompanhada pela toma de fitoterapia ou de decocções mais fortes, nomeadamente,
alcachofra e ruibarbo. Mas atenção, com algum cuidado, pois a toma em excesso
destas decocções pode ser prejudicial, a longo prazo.
Num quadro de irregularidade
energética, onde é importante conhecer bem a desarmonia em causa, a utilização
de todos os sabores, com o devido equilíbrio, faz da técnica da harmonização,
uma ferramenta importante para conseguirmos o tão desejado equilíbrio que nos
dá saúde. Deve-se recorrer a um especialista em MTC, para que a desarmonia seja
identificada e a prescrição de alimentos ou mesmo de um plano alimentar, vise
colmatar essa mesma desarmonia e reequilibrar o nosso corpo, na sua totalidade:
corpo, mente e espírito.
As técnicas de arrefecer e
aquecer visam, sobretudo, um equilíbrio de temperaturas ajustado às patologias
de ataques de frio ou de ataques de calor. Se bem nos lembramos, a nossa
cultura gastronómica apresenta refeições mais quentes no Inverno e mais refrescantes
no verão, atuando assim para estabelecer o equilíbrio do nosso organismo.
A alimentação deve ter em conta a
tonificação geral do nosso organismo, na sua totalidade, sendo que os sabores,
que poderemos chamar de suaves, no sentido de não muito fortes, deverão ser
utilizados com mais frequência e com um equilíbrio ainda mais acentuado. Na
técnica de tonificação deveremos dar atenção privilegiada à riqueza e à
vitalidade dos alimentos, ao seu Jing, como diz Guilherme Juvenal. Alimentos
com um forte Jing, serão essenciais, pois encerram em si um potencial
energético que será disponibilizado para o nosso organismo e irá potenciar a
nossa energia, o no Qi. Por isso, a técnica de tonificar deve ser uma das mais
utilizadas.
Finalmente, a técnica do
dispersar/fazer mover, tal como diz o nome tem como objetivo fazer mover e
dispersar. Contudo, esta técnica, tal como todas as outras com base só na
alimentação, o seu efeito não é imediato, mas a médio/longo prazo. Nestes casos
a utilização da acupuntura ou da fitoterapia é fundamental, pois vão
proporcionar um efeito mais rápido, tão querido da nossa cultura ocidental. Não
temos tempo a perder, dizem os pacientes mais impacientes…
Ora bem, estas técnicas são, na
minha opinião, coadjuvantes importantes no tratamento das patologias ou
desarmonias que os nossos pacientes padecem. No entanto, o tempo que leva a
fazer efeito, salvo raras exceções, faz com que eles desistam antes de poderem experimentar
os efeitos benéficos das mesmas. Contudo, estou convencido que com alguma paciência,
da parte dos terapeutas e empenho da parte dos pacientes, aquelas serão
ferramentas fundamentais para manter o equilíbrio que caracteriza a saúde.
E nunca se esqueçam: faz do teu
alimento, teu medicamento…